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Tempo de Ser
Textos para reflexão

A propósito do Super-Eu

É interessante notar que a maior parte do nosso supereu é inconsciente. O que significa que somos motivados por sentimentos- dos quais nao temos consciência- no que se refere às coisas que fazemos e pensamos, e por vezes sobre as coisas que não temos consciência sequer de pensar! Tudo isto parece estranho e talvez impossível, mas a psicanálise confronta-se a todo o momento com dados que conprovam que as pessoas se sentem culpabilizadas sem  o saberem e acerca de coisas que nao têm consciencia de fazer ou pensar.(...)

...embora o nosso super-eu possa atacar-nos fazendo com que nos sintamos culpados, pode também atacar-nos de modos muito mais sub-reptícios, fazendo com que nos sintamos deprimidos, ou simplesmente "abaixo da média. Pode minar o prazer que extraímos da vida e fazer-nos sentir que a vida não tem sentido. Então, embora nao nos sintamos conscientemente culpados, estamos a ser punidos por alguma coisa de que nos sentimos inconscientemente culpados.

Mas de que especie de coisas poderemos sentir-nos inconscientemente culpados? Vem aqui a propósito a referência a um caso de análise de outra paciente. Tratava-se de uma mulher jovem que recorrera à análise porque sentia dificuldades em estabelecer com os outros relaçoes significativas ou tirar satisfação do seu trabalho que achava potencialmente estimulante e cheio de interesse, mas que abordava com cada vez menos entusiasmo. Fazia parte da sua história uma tragédia familiar terrível: a irmã mais nova da paciente sofrera um acidente a nadar durante umas férias da adolescência de ambas. O resultado fora uma invalidez grave e permanente. A paciente tinha conciência de se sentir triste e dolorosamente tocada, ao mesmo tempo que por vezes sobrecarregada também, pela invalidez da irmã na sequência desse acidente em que lea própria não tivera qualquer responsabilidade. Mas não tinha conciência do modo como se sentia culpada até ao momento em que teve um sonho que a fez recordar-se de um episódio que acontecera quando era criança pequena- por volta dos 3 anos de idade. Lembrava-se de estar à mesa da sala de jantar com o pai e o irmão mais velho enquanto a mãe amamentava e punha na cama a irmã mais nova, nessa altura ainda bebé. E lembrava-se de ter tido o terrível sentimento de não haver na mesa comida suficiente para ela e de ter odiado a irmã bebé. Começara a chorar e a queixar-se, fazendo uma birra, pelo que acabara por ser mandada sair da mesa.

Segundo a sua descrição da situação, tal como a recordava, havia na realidade muita comida na mesa. Tornou-se evidente que a falta que sentia era a da mãe, e que o facto da irmã mais nova estar a ser alimentada pelo seio da mãe a enchera de dolorosos sentimentos de privação e ciúme, e também ódio, por aquele bebé que estava a ter tudo o que ela própria queria.

O trágico acidente real da sua irmã fora sentido por ela como a realização de desejos hostis muito comuns que a paciente alimentara contra aquela. o que a impedira de associar a sua recordação da hostilidade que em criança sentira em relação à irmã mais nova e a tristeza que experimentava perante a sua invalidez, uma vez que a ligação entre as duas coisas lhe causaria um insuportável sentimento de culpa.

(Cont.)


(Priscilla Roth- Supereu- Almedina)