O processo psicoterapêutico na criança tem características especiais.  De um modo geral a criança não tem uma consciência clara do seu sofrimento psíquico. São os familiares ou os educadores que se apercebem de determinados sinais no seu comportamento, através de queixas somáticas ou angústias, ou no seu relacionamento com os outros.

Assim, a criança, muito dificilmente,  num gabinete de consulta expressa, verbalmente, o seu sentir. Em crianças mais velhas e maduras, isso acontece, por vezes. No entanto é uma situação quase rara. É assim feito uso, a par da entrevista com a criança, de outros meios fundamentais, tais como o jogo e o desenho infantis.

Então como é que o Psicoterapeuta acede à compreensão do mundo interno da criança?

Desde há muito que se sabe que a criança, através do jogo, dramatiza situações que lhe são dolorosas, usando os brinquedos para desempenharem determinados papeis. Os pais percebem  isso quando observam os seus filhos a “brincar às escolas ou aos médicos”, assumindo papeis, ora de uma professora extremamente severa, ora de um médico um tanto ou quanto sádico.

Foi, todavia, Melanie Klein que investigou os desenvolvimentos do jogo infantil e que compreendeu essas cenas de jogo, como se  se tratassem de um sonho, como uma realização de desejos, olhando-as como actos simbólicos e não como tradução por imagens.

Partindo desta nova perspectiva,  o processo psicoterapêutico da criança desenrola-se  em torno de diferentes cenários de jogo construídos pela criança,  em conjunto com o seu terapeuta, o qual ao acompanhar e participar no jogo vai percebendo os diferentes conflitos e angústias  postos em cena.

Cabe então  ao terapeuta o papel de pôr em palavras simples e acessíveis à criança a explicitação do que lhe é dado entender, fazendo-o num clima emocional vivo. Dessa forma a criança, pouco a pouco, vai encontrando alívio para determinadas situações que, sózinha, nunca conseguiria aceder. Os desenvolvimentos posteriores dos seus jogos e da sua comunicação, permitem  ao terapeuta perceber se a criança  foi adequadamente compreendida.

O Psicoterapeuta de crianças é, pois, um técnico que sabe aliar o pensamento, o conhecimento e a emoção para ajudar o seu pequeno paciente.

I.M.P.